quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A pluralidade da alma gêmea


- Oh! Carlos Eduardo, vamos nos casar e nos amaremos para sempre.
- Sim Maria Augusta. Farei de você a mulher mais feliz desse mundo, por toda a eternidade.
Normalmente, é assim que se procede ao final daquelas novelas mexicanas que dão a impressão de se repetirem milhares e milhares de vezes. E são tantas as vezes que isso começa a ficar maçante. Porém, não se deve encarar está inquietação como algo negativo.
Desde cedo somos instigados a acreditar em uma única alma gêmea que nos fará felizes para sempre. Não que eu não acredite em almas gêmeas, não é isso. Apenas delato a possibilidade de haver mais de uma. Agora alguém deve estar pensando: - “O quê? Esse articulista sem vergonha deve estar querendo defender a bigamia com essas conversas de existir mais de uma alma gêmea. Homens! humft”. Não é isso!
O que quero dizer é que essa idéia de “pra sempre”, com o passar do tempo, pode se tornar mais uma prisão do que um sentimento confortador, uma garantia de felicidade. Afinal de contas, o universo é mutável, por conseguinte o ser humano também é. E neste exato momento outro alguém deve estar pensando: “Como? Quer dizer que antes mesmo de casar-me já sei que vou encontrar-me com a separação? Este rapaz está louco!”. Também não é isso.
Já parou para pensar que quanto mais livre deixamos a pessoa amada, mais ela se aproxima de nós com mais alegria e prazer? Mas e se um dia essa mesma pessoa quiser ir tomar outro caminho em sua vida? Serei compreensivo entendendo que um relacionamento é realizado por duas pessoas e não por uma apenas, merecendo a alma gêmea seguir em paz com essa verdadeira prova de amor ou serei egoísta e tentarei dissuadi-la para que fique comigo, mesmo que esta não se sinta mais feliz ao meu lado?
Não fique triste, ainda não cheguei aonde quero.
Essa situação pode ocorrer ou não. Tudo depende das nossas escolhas e da escolha da alma gêmea. Mas se ela decidir ir mesmo, de verdade? Aí surge uma nova dúvida. Se nossa “costela” resolveu ir se aventurar por outros caminhos, então ela não era a nossa verdadeira companheira da eternidade. Definitivamente não é isso.
Caso ocorresse desta forma, passaríamos essa mesma eternidade procurando por ela. Melhor seria chegar à conclusão de que existe uma pluralidade de almas gêmeas, todas esperando apenas o momento certo de entrar em nossas vidas e sair novamente. Umas por pouco tempo, outras por um longo tempo.
Então não seria melhor investir o nosso amor primeiro em nós mesmos para depois lançá-lo a outros e assim evitar grandes decepções e aquela velha “síndrome de pedreiro” que tenta, a todo custo, tapar os buracos de nossa alma com relacionamentos infelizes?
Pense bem, se nos amarmos em primeiro lugar estaremos sempre a altura de um possível rompimento, mas também estaremos dando o melhor de si no relacionamento, somando muito mais momentos agradáveis do que ruins.
Somos mutáveis. Aquelas frases que sempre nos rodeiam nas horas de incertezas parecem cada vez mais verdadeiras. Frases como: “O mundo dá voltas; não julgue antes de saber do que se trata, etc...”. Quem garante que você não irá apaixonar-se por aquele(a) chato(a) encrenqueiro(a) a quem você odiava antigamente. Isso não é praga. Pode acontecer de verdade, mas também pode acontecer de compartilhar uma vida inteira com alguém ou de reencontrá-la novamente mais tarde, quando as coisas estiverem diferentes. É uma questão de trocar o egoísmo por um amor verdadeiro.