segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Lá e de volta outra vez...

Vinha entre as várzeas, ao meio do rio, sem destino algum, pois o turbilhão de curvas que a vida me impôs tomara por completo meus sentidos, fazendo-me algoz de algo ainda não compreendido e trazendo consigo um capitão-do-ato sempre presente em um coração já cansado de intensas batalhas perdidas.

No fim de um longo trecho cobertos por árvores gigantes, que de tão grandes davam a impressão de tocarem o céu já laranja do pôr-do-sol, abriu-se uma pequena clareira na margem esquerda desse fio líqüido, prisão aonde se perdera minha felicidade e o prazer frutífero dos meus inventos. Uma pequena aldeia surgiu esplêndida e vivaz, cheia de movimento e flores em frente às casas de janelas brilhantes; de luzes variantes; ao escurecer agudo e súbito instalado naquele entardecer.

A medida que norteava em direção ao leito e uma pequena praia clara, os sons dos risos e das conversas enchiam-me o dolorido peito de contentamento, esperanças e emoções distintas, que há muito completavam minha alegria.

Quando minha velha canoa atritou-se com a areia da pequena praia, a visão da totalidade emudeceu todos os meus sentidos, exceto os meus olhos que movimentavam-se rapidamente em frente a tal beleza. Não havia ficado nervoso, nem mesmo ansioso por chegar, estava tão cansado de tudo que nem percebi com o que me deparava. Aos poucos fui percebendo cada detalhe desse lugar de encanto. Pequenas casas espalhavam-se por uma singela área rodeada de imensos salgueiros. Luzes azuis saltavam de edificações contidas no alto dessa vegetação. De repente, um vento leve começou a soprar do sudeste, regendo o balanço de alguns eucaliptos e palmeiras, cujo som encheram meu espírito de pura paz.

A lua já se apresentava na diagonal da noite. Uma linda moça veio ao meu encontro, sorrindo e cantando. Era de minha altura, morena, cabelos longos, de olhos grandes e castanhos, que davam a impressão de um desejo acolhedor e, em frações de momentos, saboreavam os instantes misteriosos.

Todo meu corpo parecia responder a aproximação daquele anjo. E quando ele chegou ao meu encontro, olhou firme para mim, segurou uma de minhas mãos e, antes de poder dizer alguma coisa, soltou um agradável riso seguido de um abraço apertado e carinhoso. Após refazer-se, disse-me com serenidade:
- Bem vindo, meu querido. Estávamos lhe esperando.

Rodolfo Magno